Por que contratar um arquiteto de vagas de garagem?

Junho 4, 2020 Por info

Condomínios procuram cada vez mais aumentar os estacionamentos, em soluções que vão da mudança do layout de distribuição à ampliação física de áreas de subsolos.

Os proprietários dos apartamentos do Edifício Ilha de Capri, no bairro da Saúde, em São Paulo, tiveram uma surpresa desagradável quando a construtora entregou o prédio de 88 unidades: havia seis jogos de vagas de garagens triplas, situação que obrigava alguns motoristas a manobrar dois carros até conseguirem retirar o próprio veículo. O contrato de venda previa vaga indeterminada e uso de manobrista, lembra o síndico Thiago de Carvalho Matos, detalhe que passou, no entanto, despercebido pelos compradores.

Para melhorar a situação, os condôminos contrataram uma profissional especializada no remanejamento das vagas, a qual, por meio de um novo layout de distribuição entre vagas pequenas, médias e grandes, conseguiu eliminar as triplas e criar novos espaços de estacionamento. “Ficaram ainda algumas vagas duplas, mas a solução foi de muito sucesso”, destaca o síndico, observando que o condomínio renovará anualmente, por sorteio, a distribuição entre os moradores.

Já no condomínio Paulistânia Bosque Residencial, localizado no Brooklin, em São Paulo, a profissional procurou equacionar uma situação muito diferente daquela vivida pelo edifício da Saúde. Entregue no início deste ano com três torres e 350 apartamentos voltados à classe média alta, o empreendimento dispõe de uma fartura de vagas – 1.132, distribuídas em cinco subsolos, sendo de três a seis (para algumas coberturas) por imóvel. “Precisávamos de um critério para distribuir isso da maneira mais justa possível”, afirma o síndico Pompeu Esteves Junior.

Pompeu Esteves ressalta que a especialista teria que levar em conta também a presença de 350 armários e depósitos. “A arquiteta organizou lotes com três a quatro vagas para sorteio, remanejou algumas delas e eliminou outras centrais no primeiro subsolo, de forma a melhorar a circulação dos veículos e permitir um acesso mais direto às rampas”, relata o síndico. Além disso, complementa, foram criadas vagas em outros subsolos e salas para armazenar o lixo.

Finalmente, no condomínio Marquês de Paranaguá, localizado no bairro paulistano do Real Parque, os proprietários, que já dispunham de três vagas de garagem, queriam mais uma, o que foi obtido por meio da ampliação física do subsolo. Responsável pelo projeto, o arquiteto Luiz Frederico Rangel diz que este caso está sendo utilizado como parâmetro de sucesso para projetos em outros condomínios. Luiz Frederico é urbanista, coordenador nacional do Grupo de Trabalho da Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) e defensor de uma série de medidas legais e públicas que disciplinem a circulação dos automóveis no espaço urbano, incentivem o uso do transporte coletivo e também imponham novos hábitos aos motoristas, em uma tentativa de evitar que a cidade literalmente pare. O arquiteto costuma lembrar que são emplacados pelo menos 800 carros por dia na cidade.

Entretanto, enquanto as políticas públicas não acontecem, cada condomínio procura encontrar a sua solução. No caso do Real Parque, além de conseguir mais garagens, os proprietários ainda obtiveram uma valorização real dos apartamentos. “Houve um investimento de R$ 14 mil por imóvel para as obras, mas cada apartamento valorizou nominalmente R$ 50 mil”, conta Luiz Frederico. “Há casos em que estamos fazendo mais um nível de subsolo”, relata o arquiteto, que tem observado ainda um outro tipo de necessidade, agora em condomínios com imóveis de menor valor: a criação de vagas para motos. De forma geral, no entanto, “a principal demanda nos prédios que estão sendo retrofitados é o aumento do número de vagas”, revela o arquiteto.

A especialista Cleide Yusuf, arquiteta responsável pelos remanejamentos nos edifícios da Saúde e do Brooklin, tem anotado, em 12 anos de atuação na área, “uma preocupação maior dos condomínios com o tamanho da vaga, a circulação e as rampas de acesso, além do local para guardar bicicletas e o depósito”.

Nos processos de reformulação, dois dos problemas mais comuns atendidos por Yusuf tem sido a existência de apenas uma vaga e o “aperto” do espaço. “Muitas vagas são estreitas, entre pilares, o que dificulta as manobras. Não são todos os casos em que podemos fazer o remanejamento, porque muitos condomínios realmente não têm área. Mas, quando conseguimos remanejar, ampliamos o espaço e criamos mais vagas”, afirma.

Segundo Cleide Yusuf, a legislação que estipula o tamanho e os critérios para a criação de vagas coletivas nos imóveis em São Paulo não atende mais à realidade dos condomínios. É o Código de Obras, estabelecido pela Lei municipal 11.228, de 1992. “Ele estabelece um percentual mínimo de 5% de vagas para veículos grandes, o que não corresponde à realidade de alguns condomínios”, diz. Segundo ela, algumas construtoras têm ampliado a largura das vagas de 2,10 para 2,30 metros. Por outro lado, ressalva o arquiteto Luiz Frederico Rangel, os veículos menores têm uma capacidade de manobra maior que os antigos, o que lhes permite um raio de curvatura menor e, assim, “a possibilidade de reduzir de maneira razoável a área de circulação”. Desta forma, é possível ganhar espaço e criar mais vagas.

Na verdade , prossegue o arquiteto, as necessidades dos condomínios variam conforme o perfil do morador. Se nos condomínios de classe sócio-econômica de menor poder aquisitivo tem havido procura para estacionamento de motos, as demandas por mais vagas de automóveis acontecem em prédios onde a população é mais jovem.

Já nos edifícios mais antigos, em que predominam moradores da terceira idade, a prioridade é baixar custos, diz. Também nos edifícios mais antigos, em que a escritura da vaga de garagem é separada da escritura do imóvel, fica inviável fazer o remanejamento, completa o arquiteto.